Aos poucos, à conta gotas, as atividades culturais estão voltando a 25, 50, 75 e 100% de sua capacidade máxima. Durante esse período o bebedouro refrigerante do Burger King e o isqueiro coletivo das distribuidoras de bebida não pararam de funcionar a toque de caixa. Em momentos de crise econômica, política e sanitária, apesar de relegado a um segundo plano da agenda setting jornalística, tivemos também a crise cultural, referente aos Impactos Psicossociais da perda abrupta do sentido ritualístico e terapêutico de coletividade urbana espontânea na cidade e equipamentos culturais, que afeta a capacidade de pertencimento gregário e geoafetivo do ser humano no seu processo de simbolização da vida. Esse processo reificante e empobrecedor do Psiquismo e da sociabilidade são consolidados por Políticas Públicas culturais omissas ou ineficazes na pandemia, o que causou também uma crise na Cultura com redução ou eliminação de oferta de produtos culturais físicos, desvalorizando a experiência provinda do espaço, oferta e consumo público de arte.
Partimos do pressuposto de que manifestações pedagógicas e culturais virtuais cumpriram seu Papel social emergencial importante no [ápice da pandemia. Em compensação, no entanto, deixaram as sequelas esperadas de uma vida altamente digitalizada e Gamificação, com prejuízo reversível da capacidade Cognitiva, motora e social de muitos indivíduos que parecem ter envelhecido "10 anos ou mais nesse último" ano. É que era fácil preferir os recursos sociotécnicos quando havia a opção de escolher essa configuração: o que, quando, onde e com quem. Uma vez que a internet se tornou item obrigatório, a experiência se tornou enfadonha e pedante, porque além de permitir sociabilização instantânea, faz Uma expiação espetacularizante da situação dramática do confinamento social. O olho que olha o flagelo da Solidão também é visto na sua fragilidade de incompletude também. Na verdade, no Brasil a palavra crise sempre foi sinônimo de cultura, a julgar pela má vontade pagar o couvert artístico, sempre em menor medida do que os sacramentados 10% por cento dos serviçais e cordiais "comandantes, capitães, tios, brothers, camaradas, chefias e amigões". É que pagar para ver o outro brilhar envolve um desapego raro em nossa antropologia de elogios fáceis, mas de aplausos ocos. Sendo assim, viver de cultura com decência no país do carnaval e da bossa-nova se torna quase que um privilégio de alguns artistas que assumem uma figura quase sacerdotal, que sempre lega a sua prole a aura do talento pela genética ou Sobrenome. Apesar da lei Aldir Blanc em 2020 ter aberto as comportas do Dinheiro público pra "artistas, bêbados e equilibristas" que jamais tiveram a chance real de concorrer em igualdade de condições em Editais de fomento com os medalhões do Alto clero da Cultura brasileira, sabemos que foram Migalhas descontinuadas que não permitem construir carreiras. Já em 2021, muitas prefeituras e estados utilizaram do Dinheiro remanescentes da Aldir do ano anterior para Aprovar projetos mais caros e em menor número, religando a chave do aristocratismo cultural que no Brasil se confunde com coronelismos políticos. O desmonte multidimensional da cultura erudita e popular nos teatros e nas ruas, que vem acompanhado do aumento violência policial gratuita contra a população, mesmo quando descomprimido Medidas sanitárias, é assim uma forma de enfraquecer a resistência biopsicopolítica ao autoritarismo antidemocrático. Por meio de um Processo de docilização e domesticação dos Corpomentealmas, o que se espera é que contraiamos o vírus do conservadorismo e fiquemos infantilizados em eterna quarentena, confusos sobre nossos sentimentos e desconfiados de tudo e todos, incapazes de senso crítico até para escolher salgado em padaria. Sem a sensibilidade fina que a arte pública traz, essencial para ouvir e ver o semitons sonoros e cromáticos do espectro não audível e visível do existir transcendendo, compromete o fluxo respiratório de oxigênio semiótico para o inconsciente. Com o passado colocando plaquinha de "fechado pra balanço" e o futuro pop-up de "em construção" a Intertemporalidade que nos permite lembrar o amanhã e sonhar o ontem, se restringem a instantaneidade fugaz e volátil de um presente impossível e insuportável. Não o carpe diem dos arcadistas, mas o limbo dos pecadores sem perdão e designação. Meses antes de a pandemia ser deflagrada, em Outubro de 2019, Iniciamos as atividades visionárias do grupo virtual Artetetura e Humanismo, que deu origem também ao projeto conceito da Editora Multimídia Brasílha Teimosa, para introduzir alguns assuntos da interface entre arte, arquitetura e antropologia social, que seria complementadas em um possível curso livre presencial. Uma espécie de mural cultural para compartilhamento de informações, experiência e saberes dessa nova Ciências da Temporalidade e Especialidade, que tentamos codificar e disseminar. Com a pandemia, o grupo de tornou maior, denso e cada vez menos coeso, mas quase sempre unido em prol de superar esse período de obscurantismo com maestria, sabendo das limitações da interação social e arte multimídia digital. Nesses dois anos de grupo sempre tentamos de maneira difusa e não-linear, convidar os parceiros a refletirem sobre o papel da arte em nossa sociedade e qual deveria ser o lugar do artistas nas políticas públicas sociais e urbanas. Nosso objetivo era elevar o status dessa profissão dando a ela o devido prestígio e reconhecimento, o que é compatível com o fato das pessoas saberem mais sobre celebridades do que sobre seus familiares e ouvirem mais tempo música no mp3 do que seu cônjuge. Como no jogo da Vida tivemos que voltar duas casas e assistir de camarote o streaming da vida real transformar arte em crime de vadiagem e de carestia novamente. Mas nesse eterno retorno não estivemos passivos esperando a meteorologista Barbie Brasil trazer notícias de tempo bom. Utilizando o potencial imaginário das redes, correndo o risco de ser chamado de maior YouTube de 100 seguidores, para compensar a falta de materialidade dos nossos sonhos. Afinal só se cura de um sonho não (totalmente) realizado, sonhando Ainda mais. É claro que 2022 será um ano de realizações, espero, que para além dessa transmigrações das almas que já virou a internet com almas penadas em LIVES de talking heads fúnebres cortadas, Mas sempre cheia de flores aromáticas do Cerrado na caveira. O importante é sabermos que foi a arte que nos manteve sempre alertas nas sonâmbulancias insones. E vivos para arquitetar novos planos de voos dumontnianos por Paris e Aparecidas do Brasil, não para que ela volte à normalidade, que era cruel com os artistas jovens sem retrato, mas para que coloque antes, durante e depois do carnaval o bloco da Arteteura e Humanismo nas ruas, nos rios e nas redes, sempre carona com nossa Brasílha que insiste em contrariar a Lei da Gravidade. Afinal, tudo que é líquido se solidifica na arte.
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FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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