Movimento ARTetetura e HUMANIsmo iniciou a pré-produção do projeto multimídia "SOUND PAULO, Ondas Paulistanas", que consiste na criação de uma cartografia urbana musical de São Paulo com gravação de músicas inéditas do urbanista e compositor goiano Fred Le Blue sobre a paisagem cultural da cidade de São Paulo. A ideia é estimular a circulação de pessoas por locais culturais e turísticos, por meio de uma tecnologia cartográfica sociocultural, que favoreça uma maior orientação espacial na labiríntica capital do Estado.
É um projeto de educação patrimonial musical a partir da criação de uma cartografia de "trilhas" sonoras originais populares, eletrônicas e instrumentais (áudio guia musical) sobre São Paulo. No que permite apontar para uma inteterritorialidade mais plena entre as diversas localidades e minorias de direito na cidade, capaz de gerar maior pertencimento local, favorecendo também um de tipo turismo alocêntrico na cidade por partes dos inúmeros moradores e visitantes. Além disso será criado um mapa colaborativo para catalogação georreferenciada de clássicos da música paulistana que cantam o cor-local de determinados prédios, ruas e bairros, territórios reais subjetivados pela imaginação poética, como expressos na obra de compositores como Adoniran Barbosa, Tom Zé, Gilberto Gil e Sabotagem. As canções sobre bairros, praças, ruas e espaços públicos de São Paulo poderão assim ser executadas em celulares, sugerindo roteiros para uma etnografia percusiva pelas localidades musicadas pelo compositores. Como surgiu a ideia da proposta do "SOUND PAULO, Ondas Paulistanas"? FRED LE BLUE: Quando mudei do Rio para São Paulo em 2016, fugindo do tsunami causado pelas Olimpíadas, tive muita dificuldade de introjetar uma percepção urbana congniscível da "paulicéia desvairada", em função da falta de elementos topográficos e geográficos naturais norteadores do deslocamento na cidade. Muitas ruas e bairros com suas fileiras infinitas de prédios eram muito semelhantes em sua monotonia urbanística, por causa do excesso de ordem cartesiana e falta de estímulo visual. Comecei a compor canções para espaços e equipamentos públicos que pudessem funcionar como marcadores geoafetivos, uma cartografia íntima que tornasse mais familiar e menos inóspita a cidade. Na verdade, tentava humanizar o concreto a partir de fissuras do tempo que é a música, criando postais sonoros e territórios musicais, sobretudo, para lugares ainda não considerados turísticos. A ideia era que as canções funcionassem como áudio-guias para conduzir rotas de fuga sustentáveis para um vida plena de significado, que fizesse um contraponto a percepção negativa predominante da metrópole: "não existe amor em SP". Esta representação é um subproduto do gigantismo demográfico e urbano de São Paulo, que tende a causar muitos sentimentos obtusos oriundos da falta de empatia e alteridade como medos, paranoias, bairrismos, regionalismos, xenofobias, sociofobias e fascismos. Não é a toa que na época, os jovens só faziam sua "ronda" para matar Pokemon em "bar da Avenida São João". Como se deu o processo de criação das canções sobre as paisagens e patrimônios da cidade de São Paulo ? FRED LE BLUE: Como frequentava muitos espaços culturais e universitários, que em São Paulo são verdadeiros oásis em meio a selva de pedra, comecei a realizar minhas derivas psicogeográficas a pé, que chamei de "neobandeirantismo", o que permitia eu ter um panorama geral da arte produzida em diversas regiões da cidade. Como eu também optei por morar em diversos bairros, tive acesso à flagrantes cotidianos do comportamento socioespacial muito amplos, o que permitia retratar essas localidades com fidedignidade investigativa. Todo esse manancial de informações permitiram desconstruir o tempo acelerado do paulistano no seu ir e vir no metro, que, na verdade, condiciona o olhar dos citadinos para uma postura social e corporal robotizada, quase sociofóbica, refratária à sociabilidade urbana. Na verdade, pelas bordas da esteira industrial das ruas de São Paulo, em que, paradoxalmente, as centenas de cavalos dos carros parecem galopar sem sair do lugar, fui acessando e ressignificando uma cidade oculta, mas possível. A partir dos achados e perdidos paisagísticos e antropológicos que muitas pessoas não se dão conta, por não terem tempo e dinheiro pra perder, e estarem sempre cabisbaixos em busca de afeto na vida digital e gamificada, tentei impingir nas músicas essa minha experiência nômade na cidade que permitia se relacionar de forma absorta e resiliente com parques, prédios e pessoas, participando e cocriando de zonas espontâneas de produção cultural, mormente, nos espaços e equipamentos públicos. https://diariodebrasilia.net.br/2023/04/28/artetetura-cria-mapa-musical-de-sao-paulo/
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FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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