Conto: Bicgrafia
Autor: Fred Le Blue Sinopse: Biografia de uma caneta BIC que revela fragmentos da história política brasileira recente do período militar e seus impactos até os dias de hoje. GABO: Fred Le Blue, qual foi a inspiração para criar o conto Bicgrafia"? FRED LE BLUE: Esse conto autobiográfico de um objeto inanimado, que dá vida política a uma caneta BIC, surgiu da necessidade de tratar temas da história recente do Brasil, como a ditadura empresarial-civil-militar, de maneira mais acessível, empática e poética. Como há uma tendência ao esquecimento planejado no país de assuntos considerados espinhosos como esse, optei por utilizar como estratégia de mediação com o público, a humanização desse elemento comum do cotidiano de qualquer pessoa, que é a caneta, como uma forma de denúncia do desaparelhamento das políticas públicas de justiça e memória no país. Fazendo as coisas e espaços testemunharem é uma forma de contribuir para criar um ambiente mais propício para o diálogo assertivo sobre os crimes cometidos pelo Estado Brasileiro, justamente para que a população não assinem em baixo em relação às violações de direitos humanos com os Atos Inconstitucionais que ocorreram na época. GABO: O que o público pode esperar da história? FRED LE BLUE: É uma estória que trata da história da democracia no Brasil de maneira mágica e fantástica, se atendo aos pontos historiográficos mais controversos, sempre tentando extrair alguma lição de moral que aponte para a relevância de conhecer criticamente nossa memória temporal-espacial e individual-coletiva para que haja alguma perspectiva de cidadania plena futura. Eu costumo chamar essa metodologia de "retro-pers-pectiva". GABO: É a primeira vez que você escreve sobre o gênero abordado no conto? FRED LE BLUE: Tenho escrito sempre sobre temas dos direitos humanos, em geral. Já havia escrito uma peça pueril de teatro escolar sobre o Navio Negreiro, a partir da obra de Castro Alves, chamada "Ouro Negro" e também um conto na minha fase adolescente "Um Mico que nunca pagou mico" sobre a questão do racismo e xenofobismo. Em 2011, escrevi um musical para dar visibilidade sobre o papel socioambiental dos garis "Gari e a Parisiense", tendo em 2014 (mesmo ano de BICGRAFIA), escrito também um outro musical releitura da obra "Alice no País das Maravilhas" sobre a questão da cidade informal no Rio intitulado "Alice na Cidade Maravilha". Mas sobre o tema da democracia e ditadura no Brasil, de fato foi a primeira vez. Em 2015, influenciado pelo conto, escrevi um artigo acadêmico sobre o movimento social ocorrido em 2014 no Rio, o OCUPA DOPS, que visava construir um memorial sobre a perseguição política no antigo prédio do Dops. O trabalho era uma exigência de um edital em 2015 do Ministério da Justiça para o cargo de mobilizador do Memorial da Anistia em Belo Horizonte. Como após ter sido aprovado em todas as etapas, o processo foi cancelado misteriosamente ainda no governo Dilma, comecei a tentar publicar o artigo para denunciar os retrocessos que se anunciava já em 2015, juntamente com o conto em anexo. Mas não houve êxito pois, em geral, o meio acadêmico, ainda muito especializado e positivista, tem muito receio em utilizar a literatura como ferramenta de educação e divulgação científica. Foi quando decidi desmembrar os dois e publicar aqui o conto. GABO: Qual foi o maior desafio ao escrever o conto? FRED LE BLUE: É um tema-tabu que não é fácil ser trabalhado no Brasil tanto na Ciência quanto na Arte, principalmente, por questões da maneira como recalcamos esse trauma coletivo em função de uma falsa cordialidade. Eu fiz mestrado em Memória Social na UNIRIO na Urca do lado do prédio da Marinha, mas infelizmente essas questões não eram abordadas com proficiência. Comecei a ver os documentários produzidos pelas Clínicas de Testemunhos e Comissão da Verdade para compensar essa lacuna da minha formação. Depois disso, fiz um curso de pedagogia da Memória no Consulado da Argentina, que me permitiu ver como nesse país, em que houve a revisão da Anistia com punição de torturadores das altas patentes, há um cultura de memória mais salutar que a nossa, tendo no ensino médio, uma disciplina obrigatória de "política e cidadania". GABO: Quais são suas expectativas para a estreia do conto? FRED LE BLUE: Espero que ele possa contribuir para zelarmos pela saúde da democracia no Brasil que está respirando por aparelhos juntos com os milhares de hospitalizados por COVID-19 em 2020. A minha expectativa maior é poder, juntamente, com futuros trabalhos ficcionais paradidáticos ou didáticos-acadêmicos da Editora Multimídia Brasília Teimosa, amplificar a qualidade da escuta ativa das diferenças sexuais, sociais, raciais, físicas, religiosas, culturais e, sobretudo, políticas, em prol de um multiculturalismo crítico baseado em relações de tolerância mútua e alteridade antropológica. GABO: Se fosse para definir o conto em uma palavra, qual seria? FRED LE BLUE: Resiliência. GABO: Deixe uma mensagem para o público. FRED LE BLUE: Espero juntamente com os demais contistas poder preencher um pouco esse vazio dos dias de quarentena de todos os leitores-amigos. E que possamos juntos com essa fiel comunidade do WEB TV somar forças para defender o único ativo que de fato pertence a todos, que é a democracia. Sigo aberto ao diálogo com leitores e escritores entusiastas da literatura combativa e responsável no email [email protected]. https://www.redewtv.com/2021/01/avant-premiere-4x01-contos-literarios.html
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FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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