LE BLUE: "_Eu tô com medo. Faz tempo que eu não tinha este sentimento, porque a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – e então vira-se-á piada como é a programação novelística da TV Globo no início de 2020, todas focadas no tema da Tradição, Família e Propriedade, valores defendidos tanto por sua atriz mais famosa, Regina Duarte, que agora concorre a vaga de ministra de um ministério fantasma, quanto pelo atual presidente, outrora "antiglobalismo", em um casamento por interesses (institucionais da Globo e governamentais de Bolso) que consolida o processo de desmonte da diversidade cultural.
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CASINHA DE CACHORRO o espaço privado se torna públicoA situação dos cachorros de rua não é resolvido com adoção por famílias generosas. Enquanto ele não ganha sua casinha própria ele continua a vagar pela casa sem um canto para chamar de seu. Dessa forma, por mais confortável que seja a casa ele não criou o sentido de identidade canina que é importante para sua evolução enquanto espécie. Ao ser humanizado pela vida social com a cara dos seus "donos", o cão que passa a ter um lar, continua, amiúde, sem uma casinha. Para suprir carências dos humanos, ao ocupar papéis sociais que não são seus, sedento por alertas de mensagem de what´s up que nunca chegam, o cão passa a ter credenciais para dormir no quarto e na cama e passa a ser assim, um sujeito sem lugar. Exposto no espaço privado tornado público quase que 100% do dia o cão é o Chaves sem o seu barril. Sempre em sua cidade do interior interior, o cão parece escravo de sua fidelidade canina socializante aos seus melhores amigos que faz a qualquer momento do dia, crente de que as relações sociais não precisam ser efêmeras e podem durar intensamente o tempo de vários cafezinhos com ração. Porém, a ausência de privacidade que ele acaba vivendo se transforma, por vezes, em invasão estabanada do espaço alheio. A importância do programa de habitação social de cães reside aí nessa luta pelos direitos dos animais para que eles possam adquirir ensinamentos humanos na relação homem-animal mas sem somatizar conteúdos desses, afinal, não deve ser tão osso assim a vida de cão. MAISON DU GATEAU, o espaço público se torna privadoA situação das gatos de família é sintomática da atual conjuntura psicossociológica
na era da quarta revolução industrial. Acossados no espaço privado, esses gatunos soturnos estão perdendo sua propriedade ninja de escalar paredes e, pisando em ovos, cair na fara pelos telhados de vidros das casas vizinhas. Castrados em seu cio de descobertas e bem-aventuranças, os gatos estão cada vez mais invisíveis socialmente e tem se tornado sociofóbicos, avessos à aparições públicas (ainda que parciais) e balaios de gatos, que sempre remontaram a diversidade do cosmopolitismo felino felliniano. Ao ser desencantado de sua graça natural, os gatos tem imposto seu fascismo bairrista que parecem não fazer ron-ron para pessoas diferenciadas, como migrantes e refugiados - só para uns gatos pingados em seu círculo íntimo. Apesar da proximidade visual, o gato prefere manter um distanciamento físico dos seus concidadãos e não deixar mais seu rabinho flutuar livre e solto entremuros. Se mantem preservado de riscos paranoicos de violência urbana, como ódio contra pichadores, que criou para manter intacto seu longo bigode e sua solidão tirânica. A importância do programa de visibilidade social de gatos reside aí nessa luta pelos direitos dos animais para que eles possam adquirir ensinamentos humanos na relação homem-animal mas sem se somatizar conteúdos desses, afinal, não é só o gato de botas que tem muita estória para contar. |
FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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