A globalização e digitalização da vida não tem substituído o talento dos homens lentos de Milton Santos. Na cidade da velocidade das obras 24 hs para atender um mercado rentista que tenta cada vez mais reduzir o horizonte ao tamanho de uma tela de celular, espaços de interesse público são disputados por diversos grupos privados em detrimento da população, que privada de locais adequados para sociabilização face-a-face, se embrutece em meio ao caos dos meios de transportes lotados. Em uma São Paulo, em que os espaços são cada vez mais algoritmizados pelo tempo da internet (redes sociais), a subjetividade individual e/ou coletiva ainda resiste com "pracialidade" em alguns locais de resistência popular de direito a cidade e empoderamento urbano.
É o caso da Praça Franklin Roosevelt no Bairro da Republica (no final da Rua Augusta). Por meio de diversos comportamentos espaciais festivos (café, bares e restaurantes), religiosos (Igreja Nossa Senhora da Consolação), estatais (Inspetoria Regional Consolação/Pacaembu), sociais (atos e manifestações), culturais (Sla da Resistência, Parlapatões, Saytros, Teatro do Ator, Teatro Guariba e Teatro SP,...), esportivos (skate, ginástica, ...), educacionais (Escola Teatro, SP, EMEI Patrícia Galvão, Escola Estadual Caetano de Campos, jurídicas (Fórum de Execução Fiscal) espirituais (Tai Chi, Yoga,...) e até habitacionais (moradores de rua) esse é um dos poucos locais da cidade onde todos as tribos se encontram de maneira relativamente pacífica. Esse espírito de civilismo republicano expresso aponta para a possibilidade radical de conter o predomínio hegemônico das empreiteiras construtores de desigualdade sócio espacial, por meio de um esquema de cartelização intercorporativo com 6 empresas em licitações de obras públicas no Estado e de lobby (corrupção) com políticos para modificarem o estatuto do Plano Diretor da Cidade. Além de aumentarem o potencial construtivo de zonas urbanas e terrenos privados em São Paulo, o que tende a encarecer os aluguéis e o custo de vida de todos os moradores, bem como tornar ainda mais insustentável os problemas de saneamento básico e transporte público na metrópole paulistana. Neste documentário Fred Le Blue mostra a partir da música new age "Ciência Ficcional" composta por ele e da estética de pessoas-paisagens (culturais), que os diversos usos pessoais da praça pública, inclusive este de um documentário sobre ela com trilha de ficção científica, são interdependentes e só serão harmônico quando o bem comum estiver acima do interesse privado. Afinal, todas as pessoas são púbicas e todas as praças são pessoais.
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FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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