As cine-operetas seresteiras de amor à luz estão sendo apresentadas no período entre as 3 Super Luas de 2021 ( 08/04 - Superlua “Rosa”; 26/05 - Superlua “Flores” e 24/06 - Superlua “Morango” ) quando nós estaremos aqui na Terra vivenciando esses fenômenos astronômicos de dilatação da percepção que temos do deslocamento lunar. Do eclipse simbólico desse ponto geopoético (Vale da Lua) e astrofísico (perigeu) de "aproximação" da Terra com a Lua será impossível não se inspirar vendo e ouvindo essa "luana cosmogoiana" cheia de mistérios em seu barroco jogo de luzes e sombras sonora. Sobre esse projeto, Fred Le Blue concedeu uma entrevista para o jornal Diário da Manhã: 1) “LUA&ANA” vem num momento muito oportuno: quando assistimos agentes políticos, guiados pelo lucro, devastar o meio ambiente. Por que cantar o amor à luz da Superlua para Alto Paraíso?
Le Blue: A dimensão socioambiental da Chapada dos Veadeiros é marcado por tentativas recentes por parte do setor produtivo energético e mineral de mudanças do plano de manejo para áreas preservação ambiental (APA) junto ao Conselho da Área de Conservação Ambiental (CONAPA). O solitário contato com Alto Paraíso, em especial, me despertou gradualmente para a questão macroambiental, mas percebida e modificada na escala micro. E como é amando nosso espaço imediato que podemos desenvolver compassividade para com os outros e conosco, essa personificação artística do amor através dos entes naturais, no caso a SuperLua & o Vale da Lua, surgiu como uma forma de transbordamento da possibilidade de uma harmonia universal que é também singular. Por meio dessa percepção passamos a nos sentir receptáculos das forças vitais e, por isso, responsáveis politicamente pelo futuro do planeta e do amanhã. A ópera rock rural “Lua&Ana” surgiu assim desse chamado amoroso de luta e reverência a nossa casa comum. 2) A diversidade cultural, biológica e sexual é uma das belezas da vida, mas também é constantemente atacada por esses mesmos agentes econômicos antropocêntricos. Como nasceu a ideia de realizar esse trabalho? Le Blue: Com esses desmontes nas políticas públicas culturais, ambientais e sexuais após 2018, aguditizados com a pandemia global e a crise econômica a partir de 2020, temos sidos acossados em nosso campo de experimentação a uma humanidade inautêntica causadora de distúrbios psicossociais. Enquanto compositor acostumado ao confinamento criativo, percebi que seria o momento ideal para compartilhar esse infinito universo da solidão para meus interlocutores enlutados pelas inúmeras mortes por COVID-19. A experiência solitária de conhecer o Vale da Lua em uma época de grandes avanços nos direitos ambientais e humanos no Brasil (2005), havia me tornado simbolicamente um astronauta egresso de uma missão. Talvez, por ser um local que permite se ter a percepção distanciada da Terra, como se fosse mesmo uma espécie de Lua terrestre. A poesia musicada iniciada em 2017 em São Paulo, inicialmente, com objetivo de reverenciar somente a SuperLua e o universo (trans)feminista, só tomara o corpo musical e poético geoafetivo em 2020 em minha breve passagem por Belo Horizonte e sua musicalidade eclética esquineira. Na ocasião em que as músicas estavam sendo refeitas 3 astronautas se dirigiam para a Estação Espacial Internacional. Naquela época e até hoje, todos nós estamos confinadas em uma nave espacial caseira, voltando a aderir aos conselhos moralistas de mãe para não falar com estranhos e ficar na rua o dia todo. Então voltar ao Vale da Lua através da música e poesia em um momento em que não se podia viajar me pareceu a melhor vacina mental e turismo cultural para suportar aqueles primeiros meses do pandemônio da pandemia. 3) O eu-lírico feminino da obra traz o formato conhecido como “canções de amigo” da cultura trovadoresca ibérica e mostra que o amor – em tempos de cólera – é uma arma revolucionária. Em sua opinião, qual é a necessidade de se falar disso? Le Blue: Com eu-lírico feminino da obra faz uma releitura contemporânea das "canções de amigo" da cultura trovadoresca ibérica, que eram declamadas por homens sobre o platonismo do amor feminino à espera de seu vassalo cavalheiresco. Mas em "LUA&ANA" podemos chamá-las de "canções de amiga", já que quem espera é Ana, cujo objeto de desejo é a Lua, seja lá quem ela for, apontando para um caráter emancipatório (trans)feminino, demandante por mais visibilização e direitos no espaço político e público (natural, construído ou virtual), marcado pela violência e exclusão física e simbólica por parta da sistêmica cultura falocêntrica e heteronormativa. A relevância desse tema agora é máxima pois sabemos que na pandemia as mulheres e os LGBTQI+ são os cidadãos mais afetados pelo "neoconservadorismo" em relação causal com o retrocesso das políticas públicas culturais e sexuais no país e o aumento dos casos de violência domésticas e urbanas (trans)feminicídas. 4) E como foi a experiência de fazer uma filme experimental e making-off de uma ópera rock sobre o vale da lua sem poder gravar no local? Le blue: O filme que segue a trilha das canções com imagens psicodélicas a partir desse desafio pandêmico de falar de lugares devolutos usando estratégias que não a filmagem descritivista in locus. Sem nenhum postal do lugar, o material aponta justamente para uma possibilidade visual menos paternalista, que permite reorganizar os sentidos em prol de uma potência imaginativa sinestésica por parte de cada observador. Para ir ao vale da lua, será preciso fechar os olhos no mundo da lua...
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FRED LE BLUEP.H.D. Urban Planning IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental (youtube.com/fredleblue)
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Novembro 2023
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